Uma outra voz no caminho - Da hospedagem à hospitalidade

Abstract

Em Pedagogia do Oprimido, tendo a educação e a cultura como horizonte problemático, Paulo Freire analisa a relação entre consciência oprimida e consciência opressora como uma hospedagem alienante, em que o oprimido, hóspede submisso do opressor, renuncia à liberdade na cedência dócil à Economia do Mesmo. Na opressão há uma adesão do oprimido à conjuntura que o oprime e ao carácter inflexível de uma ordem única de Verdade, o que conduz está hospedagem à pura e simples domesticação monocultural. Hoje, quase 40 anos depois da publicação de Pedagogia do Oprimido, num mundo globalizado e a braços com a crise que afecta pluralmente os espaços público e político, novos moldes de opressão cruzam, de forma inusitada, a caminhada para uma cidadania multicultural. Que novos moldes de opressão desafiam o pensamento da Democracia? Como das voz a um novo coro de oprimidos, ainda hoje apartados dessa co-pronúncia do mundo que Freire procurou? Jacques Derrida, nome fundamental no cenário filosófico contemporâneo, é cultor de uma obra de tom único, em que a cidadania se reescreve na sua emergência. A partir de Derrida, do itinerário cosmopolita da sua desconstrução, o jogo de razões de Cidadania e Cidadão, de Estado e de Direito, de Ética e Hospitalidade mudam decisivamente o seu rumo. Como ousar buscar uma cidadania multicultural, numa Ética da Hospitalidade Infinita e Incondicional, como pensa Derrida, tão contrária a essa hospedagem invasora já criticada por Freire? A partir de uma Ética da Hospitalidade e da singular reafirmação do espírito do cosmopolitismo levada a cabo por Derrida, a presente comunicação visa incidir sobre a validade contemporânea deste núcleo de questões, com Freire como justo horizonte de (re)leitura.